
Tamanho absoluto não funciona, pois elefantes e vários cetáceos possuem cérebros maiores que o nosso. Tamanho relativo também não: para o pequeno corpo de um camundongo, seu cérebro é enorme. O conforto chegou quando, nos anos 1950, o neuropaleontólogo Harry Jerison calculou o coeficiente de encefalização e demonstrou que, comparados aos demais mamíferos, "nosso cérebro é de 5 a 7 vezes maior do que o esperado para o tamanho do nosso corpo". Considere que o tamanho do cérebro cresce junto com o tamanho do corpo na evolução e olhe para gorilas e orangotangos: donos de corpos até três vezes maiores que o humano, o cérebro deles é apenas um terço do nosso. Para o corpo relativamente diminuto que temos, nosso cérebro deveria ser menor que o dos gorilas. Mas não é. Assunto encerrado: somos especiais.
Mas a ideia de que seríamos especiais não se encaixava com o que eu aprendera na biologia: por que as regras da evolução se aplicariam a todos os outros animais, menos a nós? Após cinco anos de pesquisas determinando e comparando números de neurônios entre espécies de mamíferos, chegamos aos humanos, graças a uma colaboração com a equipe do Banco de Cérebros da USP. Com 86 bilhões de neurônios, não 100, e sendo eles metade das células do cérebro, e não um décimo, mostramos que o cérebro humano é construído exatamente da maneira esperada para um cérebro "genérico" de primata em um corpo de 70 kg - não maior ou com mais neurônios do que o esperado. Sugerimos então que pontos fora da curva seriam não os humanos, mas gorilas e orangotangos, donos ao que tudo indica de cérebros igualmente "normais" de primata, mas corpos exageradamente grandes - o que é facilmente explicável por seu valor adaptativo.

Felizmente, as plateias atuais parecem aceitar bem a afirmação de que também eles, como Darwin e eu, são apenas primatas grandes. Também, pudera: há 150 anos que Darwin nos prepara o caminho.
por Suzana Herculano-Houzel (texto publicado na revista Galileu)
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